domingo, agosto 08, 2004

O silêncio é terrível.
Tive vontade de cantar. A TV não parava de falar, então eu a desliguei. Sentei em cima de uma flor e cantei. Não consegui lembrar de nenhuma música que pudesse me acalmar, cantei as tristes que lembrei.
Tive conversas imaginárias com personagens da minha história, contei algumas coisas e escondi muitas. Chorei e me escondi detrás do nevoeiro de lágrimas. Meus personagens quiseram me cuidar. Não deixei. Disse que vicia, é perigoso, sei bem como é.
Falei de como o tempo passou, de como as coisas mudaram, do caminho que fiz pra chegar até aqui. Falei de como eu sou criança apesar dos olhares que me fazem grande. Falei e chorei. Tive vontade de abraçar, mas personagens imaginários não podem abraçar. Pensando bem, nem cuidar.
Ao terminar a cantoria e as conversas, me deparei com o silêncio inevitável. A TV, que funciona como um disfarce, há muito tempo não falava nada.
Fiquei sentada, encolhida, em cima da flor que escolhi. Silêncio. Só consegui ouvir o barulho dos relógios espalhados pela casa.
Tive certeza do silêncio:
Personagens imaginários não usam o telefone nem batem à porta.