domingo, dezembro 26, 2004

Inacreditavelmente o natal me fez bem.
Assim, meio sem querer, preparada pra tudo aquilo que eu já disse aqui, toda aquela hipocrisia e sensibilidade enlatada, encontrei um afeto verdadeiro.
Passamos o natal junto com a família do marido de uma das minhas tias, acho que isso fez com que nos sentíssemos mais próximos, ao lado de quase desconhecidos.
A melhor parte foi quando colocamos todas as crianças sentadas para receber os presentes, todos de uma vez. No meio da bagunça, acabei ficando responsável por ajudar meu primo, de um ano e meio, a abrir os presentes dele. Ele é simplesmente adorável. Foi lindo, ele sem entender muita coisa, aos poucos percebendo que conseguia rasgar o papel pra descobrir a novidade lá dentro. E era uma atrás da outra, e nas mais difíceis ele virava pra mim e dizia: "abi, Lu". Tem coisa mais linda? E era carrinho, jacaré com rodas, roupas (o que menos agradava), vinte mil brinquedos e a euforia dele foi indescritível.
Estou sendo abertamente e conscientemente piegas. Mas momentos emocionantes, os que marcam mesmo, normalmente são piegas mesmo... me aguentem...
Aos poucos esta situação foi me enchendo de sentimentos bons. Me enchi de ternura, passei a noite dando carinho para as pessoas que amo, e conversando, e dando risada, e tomando champanhe.
O natal se aproximando não me parecia muito bom nas últimas semanas, estava preparada para uma grande e desastrosa frustração. Aconteceu o contrário.
Hoje minha vó veio aqui em casa, e eu fiquei me exibindo toda, que nem criança... Toquei flauta, cantei, mostrei todas as coisas novas e bonitinhas que eu tinha pra mostrar. Foi legal, muito legal.
Este natal me contrariou.... e o pior é que eu simplesmente adorei!
Acho importante estar disposta a mudar de idéia, se deixar surpreender...

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Vou prestar vestibular de novo.

Pra dança.

Mais especificamente pra pedagogia da arte com qualificação em dança. O máximo, né?

Vou ser uma ex-ex-bailarina!

Ainda não sei se vou passar, aquela coisa... Mas tenho que preparar uma coreografia de até dois minutos para apresentar para a banca, e ainda vão me dar um tema de movimento pra eu improvisar. Isso já está sendo o máximo.... Estou há tanto tempo sem dançar, todas as idéias que ficaram guardadas durante todo este tempo estão saindo do baú. Estou em ebulição.

Coloquei a qualificação em teatro em segunda opção, então vou fazer o teste também. Tenho que apresentar uma cena de até dois minutos com texto e outra sem texto ( que medo...). tô me divertindo pra caramba procurando o texto.

Acho que o pior de tudo ainda vai ser a prova de física...

terça-feira, dezembro 07, 2004

Ventos novos sopram...
É inacreditável como coisas que pareciam definitivas e resolvidas se modificam rapidamente.

Alguém sugeriu Manoel de Barros para o próximo aniversário (as fitas).... Boa sugestão.... vou pensar nisso...

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Nossa... já é dezembro...
Daqui a pouco já é ano-que-vem, e como as coisas mudaram por aqui.
Tenho muitas provas chegando, algum tempo e energia a serem dedicados à leitura, e logo depois vêm aquelas datas de felicidade com dia e hora marcados... As pessoas repentinamente ficam sensíveis e falam de sentimentos nobres e choram lendo cartões enquanto comem peru. Pra logo em seguida voltarem ao cinza e às pequenas agressões do dia-a-dia.
Não gosto de natal. A touca do Papai Noel não combina em nada com o calor daqui. A cidade fica cheia de bolinhas e lacinhos e luzinhas e...touquinhas...evidentemente...
Tudo cheirando a artificialidade e plástico. Todas as famílias de propaganda de margarina são estampadas em todos os lugares que um olhar desatento alcança.
Um pouco pessimista, quem sabe. Amargo, talvez.
Quero ver como um simples desabafo de saúde em meio às multidões que vão religiosamente às compras e à sensibilidade enlatada.

terça-feira, novembro 23, 2004

A festa foi muito boa.

Meus pedaços foram muito bem recebidos. Tratavam-se de fitas. Fitas brancas de cetim com trechos de poemas que tirei de livros de poesia e prosa de alguns dos meus escritores preferidos. Cada pessoa que chegava colocava a mão dentro de um saco e tirava uma na sorte. Depois, amarrava nela mesma. Foi legal, as pessoas receberam bem. Alguns trechos que eu usei:

...quero apenas contar-te a minha ternura...
...tudo que existe em mim de grave e carinhoso...
...eu quero um punhado de estrelas maduras...
...todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir...
...tudo o que amamos são pedaços vivos do nosso próprio ser...
e por aí vai...

Fiz muitas fotos das fitas pela cidade. Levei elas (cerca de 60 metros) aos meus lugares, lugares importantes pra mim. Lugares por onde eu passo, onde trabalho, onde moro... Esta parte me consumiu muito tempo e energia. Andei pra cima e pra baixo com as fitas e uma câmera bem pesadinha dentro da bolsa. Foi uma experiência bem interessante. Acabei criando uma relação importante com as fitas. Cheguei a não querer me desfazer delas por alguns momentos. Acho que atingi meu objetivo. Elas assumiram realmente o papel de pedaços de mim. E nunca é fácil entregar pedaços de si, nunca é fácil se entregar.

Durante a festa estas fotos ficaram coladas na parede, pra que as pessoas vissem a história daquelas fitas antes de chegar às suas mãos. E a gente sempre chega até as pessoas carregando uma história, nunca em branco.

Agora fico pensando que destino estes pedaços de mim terão, cada um seguindo o seu caminho. Mas as coisas são assim mesmo, a gente se entrega, se expõe e logo em seguida perde completamente o domínio sobre o que o outro vai fazer com isso. É essa a idéia mesmo.

Fiz fotos durante a festa. Fotos das pessoas comigo, das pessoas com as fitas... Registrei até o último momento a história destes pedaços de mim enquanto estavam perto de mim ainda, antes de seguirem seus próprios caminhos.

No outro dia, fui ao show do Vitor Ramil no Teatro São Pedro. Foi o máximo. Cantei todas as músicas que sabia e até chorei durante as que me tocam mais. Depois do show, falei com ele e entreguei uma fita. Provavelmente ele não tenha entendido muita coisa, mas foi muito atencioso. Pegou a fita, leu, sorriu, agradeceu e me deu um beijo no rosto. Depois, guardou a fita no bolso, eu vi.

Acho que isso é o máximo de atenção e carinho que uma pessoa poderia mostrar nesta situação. Fiquei feliz. Foi bom ver que o cara que escreve coisas que me tocam tanto trata as pessoas assim, olhando no olho e se doando, de um certo modo. Me pareceu muito sincero. Ele poderia ser um baita músico e poeta, mas ser um merda no trato com as pessoas. Não é. Não foi.
Só me arrependo mortalmente por não ter tirado uma foto dele (com a fita, claro), dado que as fitas e as fotos fazem parte de uma história maior e tal. O que aconteceu foi que eu não quis parecer ridícula, dar de tiete... Por outro lado, não diria que ele me achou uma gênia só por não ter tirado fotos...

Me sobraram algumas fitas, que vou continuar dando às pessoas que não puderam ir à festa. Uma delas peguei pra mim, e estou usando. Estava, pelo menos, no dia do show.

Pretendo colocar todas as fotos que resultaram deste processo na internet, pra que as pessoas possam ver. Vai faltar a foto do Vitor Ramil, mas paciência...

No mais, aguardem notícias das fitas...

sábado, novembro 20, 2004

Bom ontem (dia 18) foi meu aniversário.
Agora tenho 21 anos.
Foi legal, recebi algumas manifestações de afeto inesperadas e tal. Jantei num restaurante árabe com a minha família, e foi legal proporcionar uma experiência diferente para aquelas pessoas que normalmente não saem da rotina, e comem sempre as mesmas coisas (normalmente pizza, que eu odeio, nas datas especiais). Confesso que também foi uma estratégia de vingança, por todos os jantares nas mesmas pizzarias de sempre. Mas foi ao mesmo tempo uma transgressão, uma aventura que eu quis nos proporcionar. Curti.
Também ganhei uma flauta da minha mãe querida, e finalmente vou poder voltar a estudar.

Amanhã vai ter uma festa, onde vou reunir muitos amigos de épocas diferentes, pessoas muito queridas.
Preparei uma surpresa para todos eles, uma forma de dar um pedacinho de mim para cada um, de manifestar a importância de todos eles pra mim.
Me entreguei bastante na preparação desta surpresa, bastante tempo e energia. Além do que eu vou dar para cada um, vou usar o espaço também para expor um registro que eu fiz da trajetória destes pedaços.
Não posso falar muito pra não estragar a surpresa, depois da festa vou com certeza explicar e mostrar melhor tudo o que eu fiz.
Foi uma experiência muito interessante a elaboração disto, me envolvi de uma maneira que eu não esperava, me enteguei mesmo. Criei uma relação afetiva real com o material, e cheguei a não querer me desfazer dele por alguns momentos. Atingi meu objetivo. Não vai ser fácil entregar e deixar ir. Mas se entregar nunca foi fácil, de qualquer maneira...
Bom vou ficando por aqui, antes que eu acabe entregando o ouro antes da hora...

Aguardem as notícias da festa e dos meus pedaços espalhados por aí...

sexta-feira, outubro 29, 2004

todo mundo mora sozinho

todo mundo se mora

segunda-feira, outubro 25, 2004

Tenho prova em menos de 24h e não consigo achar o sentido das coisas do mundo. Socorro. Acho que preciso de ajuda profissional...

sábado, outubro 09, 2004

O poema q tá ali embaixo, do Álvaro de Campos, agora anda sempre no meu bolso.
Tenho vontade de ler em voz alta pra todo mundo.
O problema é só que me sinto super exposta, me sinto nua.
Me identifiquei muito com o poema, queria que todo mundo soubesse. Soubesse que ali está colocada um pouco a minha maneira de sentir as coisas, pelo menos neste momento.
Mas, como toda exposição, causa um certo receio, um constrangimento.

Bom, sei lá, tô viajando... n deixem de ler e reler d coração aberto...

sábado, outubro 02, 2004

Lisiane diz:
Acho que há um universo do qual tu sempre foges e, que te encanta, desejaria pra ti se tivesse coragem de buscar então, cada vez que algum habitante desse universo se aproxima, tu tentas sugar as informações sobre como é viver naquele mundo.
Está na hora de largar a pupa, borboletinha...
Tuas asas não cabem nesse mundinho apertado onde tu ta te escondendo.
É dificil enfrentar o vento, mas tu nasceu pra voar,
voltando, volta pra dança, faz teatro, tu pode pintar e nem precisa saber desenhar, mas
nao foge do que tu é,
tu nao nasceu pra te trancafiar. É palco, platéia, espetáculo, teu mundo é um lugar com luz forte e cortina, onde tu vai sentir o frio na barriga te impulsionar o fato, nunca o contrário.
Nervosismo, a voz trêmula do instinto, da identificação, da esperanca e do medo.
Estar nervosa é perceber que algo te cativa, fascina, te faz desejar, e te confunde.
Mas deixar que isso seja apenas um momento onde está tudo indefinido é protelar a chance de abrir a cortina e mostrar o resultado pra platéia. Chega de ensaiar no meio da sala, pinta a cara, poe a roupa, te concentra que o improviso sempre vai ser a tua melhor arma.
Ninguem conhece a obra como tu idealizou, o que se sabe é o que tu apresenta. A menos que tu largue tudo na metade, ninguém percebe o erro, mas aplaudem-no como parte da obra.
Pra ser sincera, fico mais feliz por tu acreditar nisso, do que por eu ter razao
de nada me importa ter razao se nunca for acreditada
Posso ter a solução pra todas as tuas dores, mas de nada vale se tu nao quiser.
Claro, é só uma forma de falar, nao tenho tanta responsa assim pra dizer que sei como curar tudo, mas o que posso fazer é dizer o que sinto e o que vejo por tras dos teus olhos.


Por Lisiane Flath

sexta-feira, outubro 01, 2004

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.
Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Não sei sentir, não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido,
Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens,
Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta,
Eu quero ser sempre aquilo com que simpatizo,
Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,
Seja uma flor ou uma idéia abstrata,
Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.
São-me simpáticos os homens superiores porque são superiores,
E são-me simpáticos os homens inferiores porque são superiores também,
Porque ser inferior é diferente de ser superior,
E por isso é uma superioridade a certos momentos de visão.
Cometi todos os crimes,
Vivi dentro de todos os crimes
(Eu próprio fui, não um nem o outro no vicio,
Mas o próprio vício-pessoa praticado entre eles,
E dessas são as horas mais arco-de-triunfo da minha vida).
Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.

fragmentos Álvaro de Campos

terça-feira, setembro 28, 2004


cartier-bresson Posted by Hello

catier-bresson Posted by Hello
Ai, ai...
Aprendi a colocar fotos aqui...
Acho que agora vou falar mais com imagens do que com palavras, e tal.

Essas fotos aí em cima são do Henri Cartier-Bresson. Ele morreu no início do mês passado, aos 97 anos, e essa é a minha maneira de prestar uma homenagem. Muito bom...

sábado, setembro 25, 2004

quinta-feira, setembro 23, 2004

Não sei muito bem o que escrever.


Na verdade, acho que tudo o que eu tenho a dizer pode ser no máximo a continuação, talvez a elaboração de tudo aquilo que eu já disse.

Continuo um tanto cansada, não gosto quando a noite chega. Realmente não gosto quando a noite chega.

Não gosto de morar na minha pequena ilha, semelhante às pequenas ilhas onde todos moram, pra onde todos voltam quando a noite chega. Acredito que alguns tenham prazer nas suas pequenas ilhas, gostem da idéia de uma ilhinha toda sua e só sua pra morar. Outros talvez não se dêem conta de sua condição. Eu mesma já vivi assim, sem me dar conta de que tudo o que eu tinha era minha ilha pra morar, passando o tempo tão ocupada olhando pra longe, olhando pra fora dos limites da ilha que adormecia voltada para fora, prestando atenção ao que me rodeava, sem nunca conseguir olhar pra trás e encarar a ilha, o escuro da ilha, o desconhecido da ilha, o mistério da ilha, a minha ilha.
Agora, não consigo desviar o olhar da ilha. Encaro, investigo, avanço devagarinho, morro de medo e volto correndo! Chego até a bordinha e me dou conta que a ponte que tinha ali caiu há algum tempo, e que só me resta a ilha... Me entristeço, choro, grito, tento achar as pedrinhas que formavam a ponte, tento desesperadamente fugir. Fugir pra qualquer lugar. Onde fica algum lugar? Não sei... a gente nunca sabe...

É, só me resta a ilha.... e lá vou eu.... encho os pulmões de ar e encaro a ilha, vou entrando devagarinho, às vezes com passos firmes, na maioria das vezes bastante hesitante, mas vou, é o que me resta.

terça-feira, agosto 31, 2004

Estou cansada.
Cansada desta falta de certezas, certezas que hoje sei inalcançáveis.
Cansada de chover.
Cansada desta falta de ar, da falta do amor que já se foi.

É ingrato este jogo. Não há nada de certo, nunca. Não se sabe o que seja ganhar ou perder. Não lembro de ter sido consultada antes de o jogo começar. Não se sabe o que há no final. O que vale é jogar por jogar.

Estou cansada.
Cansada de chover.
Cansada do cansaço.

Não vejo nada à frente além do medo e do cansaço, mas nunca sabemos, certezas não nos são permitidas.

Estou cansada da falta de ar, do nó na garganta.
Estou cansada desta dor que não se disfarça. Não tenho dor de cabeça, dor de barriga, dor de ouvido. Só tenho dor de garganta quando a chuva não pode cair e uma puta dor de alma. Uma dor que não tem a delicadeza de se disfarçar, se faz sentir a todo custo. E o custo é grande.

Estou cansada de não querer a noite quando ela chega, e o silêncio do qual não tenho como fugir. De não querer o dia quando ele vem. Estou cansada de não querer a noite e de não querer o dia, e a noite, o dia, a noite, o dia, a noite...

Estou cansada, muito cansada.

Peço desculpas pela franqueza, mas nesta falta não há espaço para o mais ou menos.

domingo, agosto 22, 2004

Só por curiosidade, se alguém estiver lendo entre em contato comigo. Pode ser por e-mail ou então clicando naquela euzinha ali embaixo, à esquerda. Até.
Tenho a nítida sensação de que escrevo sem que haja alguém pra ler. Não sei se isto importa, de qualquer maneira.
Digo, e só.

Na verdade, acho que manter um blog é algo que só se justifica pelo prazer mesmo de escrever. Nestes tempos em que somos invadidos por enxurradas de informações vindas de todas as direções, cada vez fica mais difícil ter tempo e disposição para experimentar coisas fora do nosso raio de ação. É assim, como uma questão de segurança. Ou melhor, de saúde.

Assim, não me lembro sinceramente de ter um dia entrado num blog de uma pessoa que eu não conheça. É arriscado demais. Posso perder muito do precioso tempo que estou sempre devendo pros textos da faculdade, pros livros ainda não lidos, pros filmes, pros amigos a quem já devia ter ligado. Enfim, pra tudo. Toda a ansiedade de viver todas as coisas possíveis, sem me perder nos riscos das coisas talvez inúteis. Mas sem tentar, como saber da sua (in)utilidade?

No fim de tudo, acredito que as coisas menos úteis deste nosso mundo talvez sejam as mais belas e as que carregam significados que só as respostas nunca procuradas poderiam oferecer.

Com certeza o risco é grande. Já vemos e ouvimos bobagens o suficiente nos nossos meios de comunicação.

Bom, a vida é um jogo onde corre-se muitos riscos, não há outra alternativa.

domingo, agosto 08, 2004

O silêncio é terrível.
Tive vontade de cantar. A TV não parava de falar, então eu a desliguei. Sentei em cima de uma flor e cantei. Não consegui lembrar de nenhuma música que pudesse me acalmar, cantei as tristes que lembrei.
Tive conversas imaginárias com personagens da minha história, contei algumas coisas e escondi muitas. Chorei e me escondi detrás do nevoeiro de lágrimas. Meus personagens quiseram me cuidar. Não deixei. Disse que vicia, é perigoso, sei bem como é.
Falei de como o tempo passou, de como as coisas mudaram, do caminho que fiz pra chegar até aqui. Falei de como eu sou criança apesar dos olhares que me fazem grande. Falei e chorei. Tive vontade de abraçar, mas personagens imaginários não podem abraçar. Pensando bem, nem cuidar.
Ao terminar a cantoria e as conversas, me deparei com o silêncio inevitável. A TV, que funciona como um disfarce, há muito tempo não falava nada.
Fiquei sentada, encolhida, em cima da flor que escolhi. Silêncio. Só consegui ouvir o barulho dos relógios espalhados pela casa.
Tive certeza do silêncio:
Personagens imaginários não usam o telefone nem batem à porta.

domingo, julho 25, 2004

Sensação estranha. Parece que encontrei comigo mesma de repente. Comprei uma revista que tinha uma entrevista com oVitor Ramil. Comecei a ler a dita cuja, e tive a sensação de me encontrar, sem mais nem menos, com o humano de outra pessoa, que me lembrou o meu humano, e dei de cara comigo mesma.  Senti aquilo que costumo sentir quando encontro uma pessoa muito querida, coisa de afeto mesmo. Senti afeto por mim, como se tivesse passado muito tempo sem me encontrar e de repente...Olhei em volta, no ônibus, e tudo me pareceu humanizado.

 
Cheguei ao campus e passei por uma estrutura de uma exposição, nem sei direito do quê, porque não prestei atenção. Só sei que tinha umas figuras tipo charge assim, só que em tamanho real, e enquanto ainda me sentia assim meio atormentada com o inesperado, achei graça de uma das figuras que estava bastante curvada, como se a placa que ela segurava estivesse muito pesada. E pensei nas bandeiras que a gente vai erguendo e depois não aguenta o peso, mas não larga o osso. E dei de cara comigo mesma.

 Tinha um espelho no final das figuras, coisa assim tipo "você faz parte desta história", sabe? Mas o impacto daquele espelho em mim foi imenso, coisa que nem parece de verdade. Cheguei no bar, pedi um troço. Como era horário de almoço, as mesas estavam todas ocupadas e eu perguntei a uma menina se poderia sentar com ela, ela disse sim, sentei. Em dois segundos chegaram mais duas e sentaram junto, amigas dela. Era uma mesa de quatro lugares, eu e três desconhecidas. Foi engraçado,fiquei sem jeito. O mais curioso foi que elas agiam como se eu não estivesse ali. Não me olharam nenhuma vez, e eu olhando pra elas, acompanhando a conversa. Engoli o troço que tinha pedido e saí no meio do assunto, achando graça da situação.Agora tô aqui, escrevendo, mandando um mail pra mim mesma, achando tudo bonito e engraçado. Coisa estranha esta tal identidade...