domingo, fevereiro 13, 2005

Tô com raiva.

Tô com raiva de todos os meus reflexos nestes espelhos. Da imperfeição e de cada uma das falhas que a constituem, ou impedem o azul.

Tô com raiva disto que estou escrevendo. Nada soa como eu gostaria. Nada diz o que quero dizer. A pressão interna é grande demais.

Tô com raiva da encruzilhada de cada dia. Cada dia são muitas escolhas, cada escolha um novo campo de possibilidades de escolha para o dia seguinte.

Tô com raiva da incompletude, deste processo interminável. Tô com raiva por saber que é assim mesmo, fazer o quê.

Tô com raiva das permanências, das insistências, de todas as coisas que não saem do lugar. De todos os erros e até dos acertos que se repetem.

Tô com raiva por tanta coisa ter mudado, algumas coisas não cabem mais nos lugares onde costumavam ficar. Não há mais espaço para elas.

Tô com raiva da dor das despedidas necessárias que vejo se aproximando.

Tô com raiva por nunca ter certeza da necessidade das coisas. Raiva da inconstância que me faz ir e voltar.

Tô com raiva da minha incomunicabilidade.

Tô com raiva por ter que chorar de vez em quando.

Tô com raiva da tristeza que se disfarça de ansiedade, e que fala sem parar ao invés de chorar de uma vez.

Tô com raiva. Tô com raiva. Tô com raiva. Tô com medo.

Tô com raiva de todo esse medo.

MEDO.