sábado, maio 10, 2008

Algo nela era novo quando ela passou pela mesma velha porta. Havia algo vagamente diferente na maneira como ela preenchia o espaço que lhe era destinado no mundo. O recheio havia mudado silenciosamente dentro das velhas roupas.
Entrando no mesmo prédio, no mesmo elevador, na mesma sala, ainda assim havia algo de novo em cada gesto dela. Ela procurara o novo, e ele agora a tomara sem avisar, deixando-a com o frescor e a angústia de mandar no destino à sua frente.
Suas roupas e suas coisas ainda eram memórias de outros tempos. Eram sua caixa de recordações que lembrava o que fora, até há muito pouco. Cada uma das bolinhas de sua saia de bolinhas carregava um segredo seu, sussurrado ao ouvido de quem ousasse se aproximar. E muitos se aproximaram, ansiosos por beber amores inventados no movimento das suas pernas.
Cada momento, mesmo esse momento em que entrava na sala, era de escolha. Escolha entre o que vai e o que fica. Respostas sucessivas à pergunta que ela repetia para si mesma incessantemente: que partes do que foi ainda sou?