quarta-feira, maio 11, 2005

Uso muito lápis.

Vejo no lápis a insegurança de quem se vê disposto a, qualquer dia, desfazer o já feito.

O lápis está na incerteza, no não-definitivo, na falta de convicção.

Pode ser para alguém sinal de cautela, precaução, talvez até cuidado com aparência. Para mim não. Em mim, reflete o medo de assumir a efemeridade de cada momento, de cada gesto, da própria vida. Do outro lado da mesma moeda, o medo de assumir que cada gesto, cada momento na sua finitude é absoluta e irremediavelmente definitivo.

É o mesmo medo que me leva a ler tudo como se fizesse uma primeira leitura de uma série de repetições. Cada página como se fosse repetir-se infinitamente. Uma leitura que não é a leitura em si, mas o ensaio da futura leitura que tornará a acontecer e, no entanto, nunca acontecerá.

É este o mecanismo que me permite soltar o ar e desparalisar do medo.

O medo do definitivo.

Estou curtindo os comentários...

terça-feira, maio 10, 2005

de vez em quando o vazio volta.
hoje estou especialmente crítica, e censuro todas as idéias antes mesmo que termine de formulá-las. o caminho até o teclado do computador torna-se absurdamente longo.

estou cansada de ser mulherzinha e cansada de ser rebelde.

mas parece que nunca termino de ser mulherzinha e chorar no escuro e querer ser amada e não me sentir sozinha, ser mulherzinha e querer ser notada, querer ser linda e perfeitinha, fingir ter bons modos e bons gostos, fingir uma cacetada de coisas pra ser aceita e me sentir aceita e me sentir amada.

e parece que não termino de ser rebelde, de brigar com tudo, de odiar mulherzinhas e todos seus jeitinhos, de mostrar a língua e ver meus filmes, ler meus livros, como se isso levasse à redenção.

tô de saco cheio da ilusão que nunca acontece e da merda toda que funciona à minha volta pra que eu não veja a realidade.

não sei direito o que to dizendo. que merda. talvez devesse ter dado ouvidos à censura.