domingo, novembro 02, 2008

Tudo por um fio.
A busca por sentido me leva cada vez para mais longe do que aprendi como possibilidade de vida real.
Não consigo dar sentido à maneira como a vida adulta deveria ser, no sentido mais socialmente aceito.
Me assusto.
O socialmente aceito é a única referência de que disponho. Mentira.
Tenho medo de pensar nas outras referências, elas me parecem arriscadas, audaciosas, instáveis demais.
Sinto que estou me aproximando do momento em que vou ter que aceitar a radicalidade do que acredito. E viver de acordo com a minha verdade.
Nietzsche disse: "Torna-te quem tu és".
Estou me tornando quem sou. Radicalmente. Ainda me falta um bom pedaço de caminho, mas sempre falta. Não acredito na possibilidade de uma resposta definitiva. Pelo resto da vida, acho que vou continuar me tornando quem sou a cada momento. É importante manter este pensamento presente.
A pergunta que não quer calar: é possível me tornar quem eu sou e ser feliz ao mesmo tempo?
Ou o inverso: é possível ser feliz sem me tornar quem eu sou?
Perguntas, sempre perguntas... A resposta de uma charada é sempre outra charada.
No meu mundo, costuma ser assim. É mais interessante aprender a lidar com isso do que tentar fugir.

É preciso alguma coragem. Ela está vindo, aos poucos e em ondas.
Hoje assisti "Na natureza selvagem". Fiquei perturbada. Em alguns momentos me sinto a um pequeno passo desta radicalidade. O filme me deu no meio. E me levou a uma nova-não-tão-inédita questão.
Num dado momento do filme, me veio novamente a idéia de chamar alguém pra sair pelo mundo. Não qualquer alguém, uma pessoa que costumava ter este mesmo impulso de liberdade, e que muito recentemente deixou de ser a segunda-pessoa-destinatário-oficial dos meus textos.
Enfim, eu estava pensando nisso quando o cara do filme pulou no rio de uma altura terrível pra mim. Me deu um frio na barriga. Lembrei de um sentimento muito conhecido: o medo da perda. O medo que me fez por muito tempo tentar deixar o meu mundo o mais seguro possível, descartar riscos, e cercar de cuidados esse alguém. Mantê-lo o mais próximo possível, o mais seguro possível, até que nós dois ficássemos imóveis de tanto medo.
Me é insuportável a idéia de perder alguém que amo, da maneira que for. O pavor da perda faz com que amar, pra mim, não seja uma experiência minimamente tranquila.

Incompatível. É essa a palavra. Incompatível ser livre e amar desse jeito. Disso eu já sabia.
A questão é que eu não acredito no isolamento como única alternativa para encontrar as próprias verdades. Não para mim. Eu preciso de pessoas, os afetos são grande parte do meu mundo, da minha possibilidade de dar sentido.

Me perco ao escrever, querendo dizer o necessário sem dizer demais, principalmente no que diz respeito a outras pessoas. Me enrolo toda. Dou voltas, correndo o risco de me perder em detalhes ou de não dizer o suficiente por medo de dizer demais. De qualquer maneira, todo esse blablabla se resume em uma pergunta (eu avisei...): como conquistar a liberdade da minha verdade e não me privar de afetos?
Espero atingir esse equilíbrio. Algum dia, não precisa ser hoje.
Descobrir a maneira de amar e me importar sem que isso me cause tanto medo. Sem que isso me paralise. Seguir meu próprio caminho ao lado de outras pessoas que também seguem seus caminhos. Suportar o que isso implica. Tornar as despedidas menos trágicas.
Enfim... O que me resta é a boa e velha tática da tentativa e erro. Levo comigo as melhores intenções.