segunda-feira, janeiro 27, 2003

Fui ver as obras do grande artista do século que já acabou. Muita gente foi.
Em meio a touros e mulheres e mitos antigos e cabarés, pareço ter sido a única a atentar para o inusitado da melodia que invadia todos os cantos. Uma melodia lenta e suavemente forte que fazia vibrar cada partícula do meu estar.Me despertou os sentidos invariavelmente adormecidos ou forçosamente secretos nessas ocasiões.
Todos pareciam colocar a visão a serviço da minuciosa investigação da grande arte. Eu quis lembrar a audição, o olfato, o paladar, o tato... absolutamente inebriada na canção que me fez dançar secretamente por todo o salão, por todas as pessoas.
Não me viram, não me ouviram. Poderiam ter me degustado, me absorvido, me explorado na ponta dos dedos... Fui invisível, inaudível, intocável...
A visão - tão profundamente aguçada - explorando as linhas e os pontos e os desejos do artista, não foi capaz em absoluto de desvendar a volúpia secreta da menina que se deliciava, silenciosamente obscena.

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